domingo, 4 de junho de 2017

LINDINHA - PARTE 2

CASO VIVENCIADO -LINDINHA

Dia 03 - A VERDADE REVELADA
   Passou-se uma semana e tive nova oportunidade de conversar com a Lindinha sem os pais, pedi a ela para desenhar o que estava acontecendo, no desenho ficou claro (abaixo), e ela passou a me relatar os abusos sexuais que vinha sofrendo desde os 7 anos praticados pelo pai em vários episódios, inclusive as ameaças e detalhes dos abusos.
    Perguntei então se falara com a mãe e ela disse que na primeira vez sim, porem isso causou uma forte discussão entre eles e que ela não queria ver os dois brigando e o pai dizia a ela que ela não tinha provas, então resolvera calar-se.
    Perguntei se ela falaria com a mãe se eu estivesse junto, o que ela assentiu, combinamos de marcar uma hora nós três sem o pai para conversarmos e ela contaria tudo.
desenho feito pela Lindinha


Dia 04
    No dia posterior tive nova conversa com os pastores relatando o teor dos abusos e acertamos que deveria procurar o Conselho Tutelar e pedir orientações e providenciar a conversa com a mãe e a Lindinha e guardar sigilo.
Dia 05
    Foi assim que tive meu primeiro contato com o Conselho Tutelar, instalado em uma casa modesta, com funcionários atenciosos, fui atendida sem necessidade de marcar horário pelo Conselheiro, o qual ouviu atentamente registrando tudo e aceitou aguardar a conversa com a mãe dizendo-me que se a mãe se omitisse na proteção da criança eles entrariam para garantir essa proteção.
Dia 06
    Três dias depois de a criança relatar-me os abusos consegui chamar a mãe para conversar junto com a Lindinha às 10 da manhã e foi aí que ela ouviu da própria filha o abuso do pai.
Foram momentos difíceis para a mãe, para a criança e, para mim que tudo ouvia com o coração partido no meio.
    Esse foi um dia intenso, nossa conversa durou cerca de duas horas, a mãe profundamente abalada recusava-se a atender os telefonemas do pai, que ainda não sabia de nada, e ela decidiu ir ao Creas, informando-me que já recebia atendimento na unidade.
    Começando pelo Creas, as autoridades tomaram conhecimento pela mãe dos abusos, o Conselho Tutelar foi acionado pelo mesmo e tomou as providências judiciais tais como boletim de ocorrência, exame de corpo delito, etc.
    A mãe decidiu não falar mais com o pai desde então e não quis retornar a casa, nós a abrigamos temporariamente até que o pai saiu de casa após ser confrontado. E foi-se, não sabemos seu destino até agora.
    Toda esta situação por mim vivenciada foi um estágio em tempo integral, aprendi sobre sigilo, aprendi a ter domínio nas ações, pois tive que manter meus julgamentos de lado para atender mãe e filha vítimas de um pai abusador, vítimas de um sistema perverso capitalista que tirou da mãe as condições de educar a filha com segurança, pois ela precisava se ausentar por longos períodos para trabalhar e a criança ficava sem atenção, sem escola de tempo integral, essa garota ficara a mercê dos vizinhos no cortiço, do garoto de 14 anos que lhe passava a mão sem respeitar o corpo da menina, vítima da pobreza, vítima em todos os sentidos e sem direito algum garantido.
   Essa família é vítima da falta dos direitos humanos, os pais com pouca instrução não tiveram o direito a educação, não tiveram o direito ao emprego e a renda, a Lindinha não teve o direito a segurança, não teve o direito de ter uma infância protegida.

DDH -Artigo 23 §1.  Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.

   A situação torna-se agora caso de polícia...leia a parte 3.

Leia aqui a parte 3
leia aqui a parte 1

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